segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Ucrânia no ano do dragão V


Lviv, o Paris ucraniano
A cidade possui 2500 pontos arquitetónicos de interesse, 32 museus, 12 teatros, cerca de 2500 imagens de leões, 25 mosteiros e 6 igrejas católicas em funcionamento. A cidade é dominada pelo monte Vysokiy Zamok (Fortaleza Alta) de 413 metros de altura (da própria fortaleza só ficou de pé uma parede). A monte também possui a torre de televisão regional, TV Veja (Torre), que tem 198 metros de altura. No topo superior da torre é montada a plataforma de observação, coroada com a bandeira ucraniana. Desde o ano 755 o poder na cidade mudou de mãos cerca de 10 vezes. Falando só do século XX: após o fim da I G.M., e do desaparecimento do Império Austro-Húngaro, Lviv se tornou a capital da República Popular da Ucrânia Ocidental (ZUNR), em 1919 a cidade foi ocupada pela 2ª República Polaca, em 1939 pela URSS, em 1941 pela Alemanha Nazi e em 1944 novamente pela URSS.
Cândida na Praça Rynok
Mais de 100 filmes soviéticos foram filmados em Lviv, principalmente quando era necessário filmar a “França”, pois a cidade sempre teve um look ocidental, que só podia ser filmado aqui ou então nas repúblicas do Báltico.
Campa do Ivan Frankó
Uma das atrações turísticas da cidade é o cemitério Lychakivske, que recebeu as primeiras campas em 1675, hoje ocupa cerca de 42 hectares e abriga cerca de 300.000 campas. Várias campas dos Atiradores de Sich (a unidade ucraniana do exército austro-húngaro) foram destruídas nos anos 1970 pelas autoridades soviéticas, sendo renovadas recentemente. Alem disso, o cemitério se transformou na última casa dos vários ucranianos famosos, entre eles o poeta Ivan Frankó, possuindo hoje uma ala para os heróis da Ucrânia, as personalidades que dedicaram a sua vida à Independência da Ucrânia. Para entrar no cemitério é preciso pagar 10 UAH (1,2 USD), os estudantes pagam metade, por isso usufrui de minha qualidade do estudante eterno…
Conversas no comboio Kolomyia – Lviv
A sair dos Cárpatos em direção de Lviv, estávamos no comportamento – dormitório com um grupo das turistas da província de Donetsk e Dnipropetrovsk (duas senhoras com filhas, ambas divorciadas ou então separadas). As duas adoraram a Ucrânia Ocidental: “Vocês têm tradições, vocês têm aquele maravilhoso banash *, nós perdemos a língua, nós perdemos as tradições, isso dói. Os políticos são uma porcaria, nós os elegemos, pois acreditávamos que será para melhor, mas melhor não aconteceu. Eu adoro a língua, mas não a domino, penso em russo, mas quero muito, para isso ensino a filha”.
* Banash é uma papa maravilhosa feita de farinha de milho, cozida com a nata.  
Além de lamentar a sua perca das tradições ucranianas, as senhoras também gostavam de falar sobre as colegas, mesmo na presença das filhas (uma com 5 e outra com uns 9 anos): “mas ele é assim, e ela é assada, sabe, mãe da Aline tem vários namorados, agora esta nessa onda”.
No vagão – dormitório entra um rapaz: “Hrystos sia rozhdaye!” (Cristo está a nascer!)
Eu e o nosso amigo Urij Atamanuk: “Slavimo yoho!” (Glorificamos Ele!)
As senhoras: “Como? Que?! O que, como e quando deve ser dito? E o que significa? Pois nos perdemos tudo…
Conversas no comboio Lviv – Kyiv
Vizinhos no compartimento – dormitório ao lado são um grupo dos alferes da guarda – fronteira da Ucrânia. Se comunicam em russo com imensos palavrões, os mais usados são “put@” e “f0der”. Depois entram na Internet móvel, onde leiam anedotas picantes em meia – voz, cantarolam, se metem com as hospedeiras (duas jovens bonitas e simpáticas): “Temos um conhaque da Transcarpátia”. Elas: “Nos não bebemos”; eles: “mas podem nós fazer a companhia”.
A TV ucraniana
O canal televisivo ucraniano, TRK Ukrayina mostra a série russa “Isaev. A Juventude do Stierlitz” (espião soviético popular na URSS): Anos 1920. Sibéria. Os “vermelhos” prendem três oficiais monárquicos: jovens, bonitos, bem-parecidos e nobres mesmo na hora da morte. O comandante comunista é um ucraniano caricaturado: de apelido ridículo, bruto e vil com os prisioneiros, de estatura baixa e de linguagem mal articulada. Afinal, um dos oficiais (que escapam no final) era o espião soviético Isaev. Lenine tinha toda a razão quando dizia que o democrata russo acaba onde começa a questão ucraniana. Mas não percebo porque as televisões ucranianas alinham nisso…
Hora da saída
No penúltimo dia na Ucrânia, dei uma pequena palestra sobre as perspectivas do turismo ucraniano em Moçambique, na Suazilândia e na África do Sul, o evento teve o lugar nas instalações da agência noticiosa UNIAN, onde trabalhei nos anos 1990.
Um amigo, o diplomata ucraniano que vários anos trabalhou no Brasil, Yuliy Tatarchenko, nos levou ao aeroporto. Temperatura -16°C não deixava muitas saudades. Rapidamente passamos pelo controlo, incluindo pelos famosos scâneres, pressuponho que iguais aos usados nos aeroportos americanos. Tivemos que tirar as botas, para isso recebemos uns sacos azuis que deveriam ser calçados. No controlo de passaportes, chegamos juntos, não sabia se oficial iria levantar as objeções do tipo: “uma pessoa de cada vez”. Mas pelos vistos nas vésperas do Euro-2012 eles receberam as orientações de serem simpáticos.
Ao nosso lado estava embarcar uma equipa ucraniana de futebol, pelos vistos não a das mais importantes, pois não tinha avião próprio. Mais de metade de jogadores estava na fila dos possuidores do passaporte do “cidadão estrangeiro”, assim se internacionaliza o futebol ucraniano, diminuindo ao mesmo tempo, a oportunidades de singrar aos jovens ucranianos.
A praticamente única loja de Duty Free é muito pobre, embora se calhar corresponde aos desejos e gostos do “povão”: muito álcool, os souvenirs ucranianos muito pobres, com aparência de serem feitos na China, descaracterizadas e de preços médios. Em 2005 comprei no aeroporto vários ovos pintados (pysankas), uma pequena e bonita lapela em forma de tryzub, nada disso estava disponível desta vez.   
UIA vs Etihad
Linhas Internacionais da Ucrânia (UIA), que asseguram a nossa viagem entre Kyiv e Abu-Dabi, apesar de voo ser de 4h30 não tinham nenhuma escolha na comida, a sua salada parecia fresca só por cima, por baixo era uma alface rasca. Pedi água com gás e só recebi um copo de água sem gás, depois de ir e levanta-la pessoalmente. No voo da Etihad a água era oferecida aos passageiros durante toda a noite.
Os pilotos da Etihad quando anunciam o destino dizem Inshallah, Se Deus Quiser. Os da UIA não dizem nada, nem se percebe que é uma companhia ucraniana. Boeing da UIA não tem sistema do entretenimento, a tripulação não anuncia as cidades e países por cima das quais passamos, algo que não custa absolutamente nada a fazer. Já o Etihad tem um ótimo sistema de entretenimento, entre dezembro de 2011 e janeiro de 2012 eles mudaram a sua coleção de filmes quase por completo. Gostei da fita francesa “La Proie” (The Prey), que conta a história de um ladrão de bancos que luta contra o assassino de série.
O pessoal da Etihad mostra constantemente a sua boa disposição, os da UIA nem por isso, quase temos lhes pedir pelo serviço.
Aeroporto O.R. Thambo Internacional (Joanesburgo)

As lojas não funcionam 24/24 horas e não se abrem muito cedo. A Internet gratuita só funciona nos cafés. As lojas e serviços têm problemas de troco se pagarmos em USD ou Euros. Na área do check-in de trânsito não há nada para comer, nem para beber. É possível passar para a área de desembarque para comprar água, mas ao voltar, os funcionários tentaram impedir de levá-la. Teve que os explicar que acabei de comprá-la, assim me deixaram em paz.

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