quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Nossa visita a Ucrânia: Klavdievo

Visitamos recentemente a vila de Klavdievo, fundada em 1903 com a construção do caminho de ferro Kyiv – Kovel. Nesta vila cresceram a minha mãe e os meus tios, aqui eu passava os meus Verões do menino, aqui morreram os meus avos maternos e aqui continua a viver o tio, pintor Valeriy Slovokhotov. Visitando o site do Conselho Municipal soube que a nossa rua antigamente se chamava Uspenska e que a história da vila repete a rica e interessantíssima história da Ucrânia.

A pintura aqui presente é o meu retracto aos 4 anos da idade, a família acaba de se mudar da Letónia para Ucrânia, eu tenho cabelo comprido (as crianças locais me chamavam de “menina”) e por vezes acompanho o tio durante as secções da pintura dele nos bosques e lagoas próximos, viajando dentro da sua enorme mochila.  

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fábrica de Chocolate de Lviv em Kyiv

No Abril último, a Fábrica de Chocolate de Lviv abriu a sua filial em Kyiv. Fica na rua Gorkogo № 45, perto da estação de metro “Olimpiyska” (ex-estádio Respublikansky). Visitamos o café e gostamos deste cantinho de Lviv na capital ucraniana. Compramos lá o kit de chocolate “Kamasutra” para um amigo especial em Moçambique.
Canducha e Olena
Café à Vienna
Propomos um texto em ucraniano (não nosso) e algumas fotos:
http://dnevnik.bigmir.net/article/1049056/?p=0&sort=ASC

domingo, 22 de janeiro de 2012

Nossa visita a Ucrânia: Lviv II

Urso publicitário
Restaurante "Kryjivka": MP-40
Restaurante "Kryjivka": MG-42
Nevasca de Lviv
Vendedoras das doçes

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Nossa visita a Ucrânia: Cárpatos

Na aldeia ucraniana de Kosmach nós Cárpatos, fomos assistir a Malanka, as festividades tradicionais ucranianas com raízes nos cultos pagãs…
Cigano
Diabos
Canducha, músicos e Yuri Atamanyuk (último)
Urso
Nossa Senhora
Bordados de Kosmach
Capela

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ucrânia no ano do dragão III

Culto da personalidade
Milícia (polícia) ucraniana abre os casos criminais contra aqueles que “atentam” contra a integridade física dos bilboards do presidente Yanukovych, onde este ex-assaltante deseja festas felizes aos ucranianos. Creio que em nenhum país do mundo, semelhantes casos não são classificados como crime. Claro, os estragos da publicidade institucional não devem ser encorajados, mas criminaliza-los é o primeiro passo para a ditadura e o culto da personalidade. Outro passo na mesma direcção é a ausência da cor-de-laranja nos diversos arranjos natalinos, espalhados pela Ucrânia. Em luzes, grinaldas, adornos, roupas, etc., predomina a cor azul, por um lado simboliza a neve e frio, por outro lado é a cor partidária do partido de Yanukovych…

Na aldeia de Bilogorsha (hoje pertence ao Bairro Zaliznychniy de Lviv), se situa a casa onde no dia 5 de Março de 1950 travou o seu último combate o comandante supremo do Exército Insurgente Ucraniano (UPA), General Roman Shukhevych (Taras Chuprynka). Perseguido pelas tropas do NKVD-NKGB, involuntariamente traído pelo seu próprio correio, ele evacua o seu arquivo pessoal com os guarda-costas e enfrenta o inimigo. Atingido no peito pela rajada de metralhadora e não querendo cair nas mãos do inimigo, Roman Shukhevych opta por tirar a sua própria vida. O seu corpo é imediatamente evacuado para Lviv, onde foi apresentado ao seu filho, Yuri, também preso pelos ocupantes bolcheviques, com a única culpa de ser filho do Shukhevych. Libertos dos sentimentos humanos, NKVDistas não deixavam Yuri se despedir do pai, incomodando o com as piadas do estilo: “Então, assim terminaram as corridas dele!”
Como chegar?
Usando o transporte público, a melhor opção é tomar o autocarro 34, cujo ponto final é Bilogorsha. O autocarro circula pela rua Horodocka (em frente da estação dos caminhos de ferro de Lviv), a viagem demora cerca de 15 – 20 minutos. O autocarro para em frente do Museu. O Museu funciona das 10h00 às 17h00, todos os dias menos quarta – feira e feriados nacionais ucranianos. Contactos: + 380 22 2431774, telemóvel + 38 098 6084754 (Lyubov I. Datsko), ver o mapa
Restaurante Kryjivka

Tem a capacidade para sentar 400 pessoas e segue o estilo dos esconderijos do UPA, alguns dos últimos descobertos pela NKVD apenas nos anos 1960 (e outros não foram descobertos até hoje). Grande senão do restaurante é a sua fama, pois após inúmeros artigos na imprensa escrita, Internet e as peças da TV, Kryjivka quase sempre possui uma fila das pessoas que querem entrar, além da bastante gente lá dentro. O pessoal do restaurante poderia ser um pouquinho mais elegante no trato com os clientes, mas também dá para entender o stress deles, pois a casa recebe até 1.000 clientes por dia. Nas paredes do restaurante são colocadas as diversas armas de fogo usadas pela UPA na sua luta de libertação nacional, que servem como adereços para as fotografias dos clientes interessados em sentir o peso da história nas suas mãos. Pessoalmente experimentei a metralhadora PPS soviética e o MP40 e MG 42 alemãs. Posso garantir que todas as armas são bem pesados (sem munições e provavelmente sem os mecanismos internos), por isso dá para sentir a diferença entre o manejamento de uma arma de fogo real e o seu manejamento “facílimo” no cinema.  
Quando a procura é grande, o porteiro apenas limita a entrada das pessoas, mas quando as festas acabam e o número dos clientes diminui, o porteiro até oferece aos clientes a “medovukha”, horilka na base de mel.  
Como chegar?
Praça Rynok 14, entrada no interior do edifício. As palavras de ordem “Heroyam Slava” (Glória aos Heróis!).
Kolomyia – Kosmach – Sheshory
Monumento aos heróis do UPA

A cidade de Kolomyia recebeu nós com a chuva e a temperatura de 5°C. O comboio que nos levou até a cidade era já algo velhinho, tal como o autocarro Kolomyia – Kosmach, mas como as estradas no interior não são melhores, autocarros novos, provavelmente, não são viáveis. Ao lado da estrada podíamos ver apenas montanhas lindas, muita neve, várias casas novas. Na entrada da aldeia de Kosmach vimos o lugar onde as forças do UPA, comandadas pelo comandante Myroslav Symchych (“Kryvonis”) liquidaram a divisão inteira do NKVD (12 – 15 camiões, cerca de 405 pessoas). Myroslav Symchych passou 32 anos, 6 meses e 3 dias atrás das grades soviéticos, em parte pela sua firme recusa de renegar a sua luta pela libertação nacional da Ucrânia. Apesar de todas as privações e perseguições, Sr. Myroslav continua vivo até os dias de hoje.

O chefe do Conselho Municipal de Kosmach (aldeia tem mais de 6.000 moradores), Sr. Dmytro Pokhodzhuk, recebeu-nos no seu gabinete, oferecendo todo o apoio para podermos ver a Malanka, festa tradicional ucraniana, celebrada no dia do Santo Basílio – 13 de Janeiro. Tradicionalmente, só os rapazes podem participar na Malanka, eles andam nas ruas da aldeia, visitando casa a casa, vestindo-se de personagens do folclore ucraniano: urso (leva as coisas pesadas, por exemplo os troncos ou o trenó), diabos – criaturas desordeiras, por exemplo pregam as portas das WC, ciganos – vendem “ouro cigano”, etc. Além de ser um chefe muito hospitaleiro, Sr. Dmytro é primeiro dos chefes municipais ucranianos com a presença assídua no Facebook. O gabinete do Sr. Dmytro sempre esta cheio das pessoas, ora nós lá deixamos as nossas malas e mochilas e fomos ver a Malanka, ora veio um grupo de jovens da cidade de Ivano – Frankivsk, que organizam os cursos de estudos das línguas (inglês, francês, alemão, etc).
Urso
Na aldeia de Sheshory fomos surpreendidos pelo um grupo de polícias mascarados, com um carro patrulha que tinha as luzes de emergência ligados, afinal “polícias” também faziam parte da Malanka, creio que os polícias verdadeiros não ficariam nada contentes se vissem os senhores da Malanka assim fardados.
Turismo extremo

Qualquer viagem no comboio ucraniano (menos os comboios especiais), pode ser considerada como o turismo extremo, em todos os sentidos. As casas de banho (WC) são bastante terríveis (em termos de tamanho minúsculo, falta de limpeza e higiene, etc.), cheguei ver uma escova de limpeza amarrada com o fio de pesca para não desaparecer. Na nossa viagem Kolomyia – Lviv passamos pelos dois regimes de temperatura, bastante frio no vagão Comum e muito quente no vagão Dormitório, ao ponto de precisar dormir com as portas abertas para conseguir suportar tanto calor. Quem compra o bilhete com a roupa de cama excluída, não consegue depois comprar a roupa de cama junto ao hospedeiro, nem pode usar o colchão. Como me explicou o hospedeiro: “Que Deus nós livre de uma inspecção!”, o simpático rapaz até bateu na madeira. Toda a confusão foi originada pelo facto do que tivemos apenas um único bilhete no vagão dormitório que queríamos usar para colocar Cândida a descansar. Mas como no fim, vimos que não existe muito controlo, passamos para o tal Dormitório, ficando Canducha a dormir e eu vigiar o seu sono ao lado. Situação ficou muito melhor do que ver ela num vagão e eu no outro. Pois como já tinha explicado antes, existe a falta de bilhetes, originada pelo forte turismo e pelas viagens dos estudantes da Galiza ucraniana de e para casa nas férias escolares e universitárias.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Nossa visita a Ucrânia: Lviv

Ucrânia no ano do dragão II

Estradas da Galiza Ucraniana

Achei que estradas da Ucrânia Ocidental são mais que razoáveis, tendo em conta que são gratuitos para os seus utentes. Os preços das viagens rodoviários também são extremamente atractivos, se a parada de táxi em Lviv custa minimamente 25 UAH (3,12 USD), a viagem Lviv – Sambir de autocarro (30 lugares sentados) custa 18 UAH (2,25 USD) e demora cerca de 1h30.
Sociedade
Os jovens citadinos nas conversas diárias usam bastantes palavrões, palavras como “put@” ou “quer alho” são pronunciados por “dá cá aquela palha”, em primeiro lugar por usuários da língua russa. Um rapaz pergunta em russo, de maneira agressiva, a sua namorada que demora a subir os degraus longos e cansativos da Torre Municipal de Lviv (Praça Rynok): “Tas gingar porque?” Em vez de ajuda-la…

As pessoas também bebem bastante, “pelo encontro”, por uma outra razão, um duplo aqui, outro duplo ali (e simples quase não se bebe). Conversa entre os homens numa tasca de Sambir nas vésperas de Natal: “Fugi de casa, senão seria obrigado a sacudir poeira dos tapetes lá da casa!”
Os museus de Lviv

A cidade de Lviv possui cerca de 32 museus, sem contar com as galerias, exposições, restaurantes temáticos onde também decorrem as mostras de arte, etc. O restaurante “Tasca Judia Debaixo da Rosa de Ouro” (ao lado da sinagoga velha na rua Staroevreyska), pode-se considerar como o museu da vida judaica de Lviv. Os serventes são vestidos a rigor, é possível lhes pedir um chapéu típico mas já com as peysah, a conta pode ser apresentada “para negociar”, ou então se cliente tem pressa, ele recebe a conta real. No restaurante recebi um livrinho com as piadas judaicas “à maneira galega – de Odessa”, gostei uma em particular:

Moisés disse: tudo vem de Deus. Salomão disse: tudo vem da cabeça. Jesus disse: tudo vem de coração. Marx disse: tudo vem das necessidades. Freud disse: tudo vem do sexo. Einstein disse: tudo é relativo. Quantos judeus, tantas opiniões”.
Visitamos o Museu de Toucinho, que afinal é um restaurante, com alguns elementos da exposição permanente de arte. Ligado a um outro restaurante de comida japonesa, entre outras coisas, Museu oferece sushi de toucinho ao preço de 29 – 39 UAH (prato de 6 unidades). É bastante exótico, e eu que gosto de sushi e de toucinho não podia não provar. Confesso, que tal como me avisaram antecipadamente, é um atentado contra o fígado e de todo o tamanho. Aconselha-se tomar alguma coisa que ajuda ao seu estômago. Tomei horilka momentaneamente e mais tarde foi ao Mesim… 
Secção de fotografia                                                                   

No dia 9 de Janeiro tivemos a nossa secção de fotografia, que foi nós gratuitamente providenciada pelo Maksym Balandyukh (blogueiro Zirvygolova) da escola fotográfica Estúdio 111. Passeamos pelas ruas, igrejas, restaurantes, museus e pátios de Lviv, enquanto Maksym tirava as fotos. O tempo não ajudou, na medida que céu estava bastante cinzento, mas cansado de Verão permanente de Maputo, nem dei por isso.
Durante a secção de fotografia, encontramos o nosso conhecido, jovem e talentoso escritor ucraniano Lyubko Deresh, também recentemente casado. Afinal, ele aproveitou a Primavera Árabe, para se mudar da Ucrânia para Egipto, onde está a escrever uma série de novos romances. Convidamos o jovem casal visitar Moçambique, quem sabe, pode ser que o país também poderá servir de inspiração para alguma criatividade deste autor ucraniano.
Cadeia na Lonckoho

Cadeia na Lonckoho é o Museu Nacional Memorial das Vítimas dos Regimes de Ocupação, primeiro museu – cadeia da Ucrânia. Construída em 1889 – 1890 como casernas dos gendarmes austríacos, em 1919 – 1939 edifício foi usado pela Polónia para encarcerar os prisioneiros políticos, por exemplo, em 1936 aqui estava preso Stepan Bandera, após a execução do Ministro do Interior polaco, Bronislaw Perecki. Nos dias 22 – 28 de Junho de 1941, NKVD-NKGB executou aqui 1681 prisioneiros, habitantes da Galiza Ucraniana de todas as nacionalidades. Nos anos 1941 – 1944 na cadeia funcionava Gestapo e entre 1944 e 1991 o local serviu como departamento de investigação e cadeia de investigação do NKVD – MVD – KGB. Vários dissidentes ucranianos passaram por aqui, brevemente a cadeia terá uma exposição própria, dedicada ao movimento dissidente da Ucrânia. Entre várias celas da cadeia (de isolamento, de encarceramento, da morte), destaca-se a “cela molhe”, apenas segunda preservada em toda a ex-URSS, ferramenta de tortura e subjugação, usada pelo regime comunista para quebrar fisicamente e psicologicamente os prisioneiros mais indomáveis.
O Museu funciona todos os dias, das 10h00 às 17h00, na rua Stepan Bandera 1 (entrada pela rua Bryullov), tel. + 380 32 2430446, entrada é livre, as gratificações são bem-vindas.
Preços

Embora a desvalorização da moeda ucraniana (Hryvnia), ditou a subida dos preços, os alimentos continuam ser bastante baratos, comparando com o resto do mundo, vejam a minha conta do supermercado “Silpo” (1 USD = 8 UAH): 20 ovos de codorniz – 1,12 USD, refresco nacional 2 L – 0,93 USD, toucinho moído – 2,18 USD (por kg), 10 ovos – 1,29 USD, ravioli caseiros – 1,43 (por kg), cesto de kiwi (16 – 20 unidades) – 1,73 USD. A variedade dos raviolis, varenyky e pelmeni até chateia, a pessoa não consegue decidir o que quer comprar. Mesmo acontece com os mariscos e peixes. A escolha de carnes, comparada com os supermercados sul-africanos é menor.
Neve

No dia 8 de Janeiro, em Lviv finalmente nevou e nós aproveitamos o momento para fazer uma pequena batalha das bolas de neve, além de fazer o tradicional boneco de neve. Coisa que já não faço há duas dezenas de anos, mas que não esqueci como se faz. Saímos de casa para dar um pequeno passeio, que era óptimo sob as luzes de Natal e manta branca de neve. Pena que na manha seguinte quase toda a neve estava derretida, o nosso boneco desapareceu (só encontrei mãos – galhos, olhos – galhos e o nariz – galho). No entanto, na tarde seguinte, outra vez nevou, embora em menor escala, sem cobrir a totalidade da terra. O maior segredo da neve é a temperatura, se nevar, é desejável que se mantenha a temperatura abaixo de 0° C, pois caso contrário, todo o neve se transformará em água e a pessoa terá que enfrentar o problema do calçado molhado. Que não pode ser secado directamente sob a bateria do aquecimento central, pois a sola se rachará facilmente. Se os sapatos ficarem muito molhados, eles devem ser enchidos de papel do jornal e colocados nas proximidades da bateria para secar. O papel do jornal absorve água, ajudando a seca-los mais rapidamente.
Durante o nosso passeio encontramos um grupo de jovens, vestidos como personagens do Vertep ucraniano (anjo, cabra, estrela, judeu, rei David, etc.), tiramos as fotos com eles e contribuímos com pequena gratificação para as economias dos jovens. Na praça em frente da Opera de Lviv (Av. da Liberdade), estes dias decorrem as mostras dos grupos juvenis de Vertep, onde os melhores actores recebem os prémios de desempenho.