terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ucrânia no ano do dragão III

Culto da personalidade
Milícia (polícia) ucraniana abre os casos criminais contra aqueles que “atentam” contra a integridade física dos bilboards do presidente Yanukovych, onde este ex-assaltante deseja festas felizes aos ucranianos. Creio que em nenhum país do mundo, semelhantes casos não são classificados como crime. Claro, os estragos da publicidade institucional não devem ser encorajados, mas criminaliza-los é o primeiro passo para a ditadura e o culto da personalidade. Outro passo na mesma direcção é a ausência da cor-de-laranja nos diversos arranjos natalinos, espalhados pela Ucrânia. Em luzes, grinaldas, adornos, roupas, etc., predomina a cor azul, por um lado simboliza a neve e frio, por outro lado é a cor partidária do partido de Yanukovych…

Na aldeia de Bilogorsha (hoje pertence ao Bairro Zaliznychniy de Lviv), se situa a casa onde no dia 5 de Março de 1950 travou o seu último combate o comandante supremo do Exército Insurgente Ucraniano (UPA), General Roman Shukhevych (Taras Chuprynka). Perseguido pelas tropas do NKVD-NKGB, involuntariamente traído pelo seu próprio correio, ele evacua o seu arquivo pessoal com os guarda-costas e enfrenta o inimigo. Atingido no peito pela rajada de metralhadora e não querendo cair nas mãos do inimigo, Roman Shukhevych opta por tirar a sua própria vida. O seu corpo é imediatamente evacuado para Lviv, onde foi apresentado ao seu filho, Yuri, também preso pelos ocupantes bolcheviques, com a única culpa de ser filho do Shukhevych. Libertos dos sentimentos humanos, NKVDistas não deixavam Yuri se despedir do pai, incomodando o com as piadas do estilo: “Então, assim terminaram as corridas dele!”
Como chegar?
Usando o transporte público, a melhor opção é tomar o autocarro 34, cujo ponto final é Bilogorsha. O autocarro circula pela rua Horodocka (em frente da estação dos caminhos de ferro de Lviv), a viagem demora cerca de 15 – 20 minutos. O autocarro para em frente do Museu. O Museu funciona das 10h00 às 17h00, todos os dias menos quarta – feira e feriados nacionais ucranianos. Contactos: + 380 22 2431774, telemóvel + 38 098 6084754 (Lyubov I. Datsko), ver o mapa
Restaurante Kryjivka

Tem a capacidade para sentar 400 pessoas e segue o estilo dos esconderijos do UPA, alguns dos últimos descobertos pela NKVD apenas nos anos 1960 (e outros não foram descobertos até hoje). Grande senão do restaurante é a sua fama, pois após inúmeros artigos na imprensa escrita, Internet e as peças da TV, Kryjivka quase sempre possui uma fila das pessoas que querem entrar, além da bastante gente lá dentro. O pessoal do restaurante poderia ser um pouquinho mais elegante no trato com os clientes, mas também dá para entender o stress deles, pois a casa recebe até 1.000 clientes por dia. Nas paredes do restaurante são colocadas as diversas armas de fogo usadas pela UPA na sua luta de libertação nacional, que servem como adereços para as fotografias dos clientes interessados em sentir o peso da história nas suas mãos. Pessoalmente experimentei a metralhadora PPS soviética e o MP40 e MG 42 alemãs. Posso garantir que todas as armas são bem pesados (sem munições e provavelmente sem os mecanismos internos), por isso dá para sentir a diferença entre o manejamento de uma arma de fogo real e o seu manejamento “facílimo” no cinema.  
Quando a procura é grande, o porteiro apenas limita a entrada das pessoas, mas quando as festas acabam e o número dos clientes diminui, o porteiro até oferece aos clientes a “medovukha”, horilka na base de mel.  
Como chegar?
Praça Rynok 14, entrada no interior do edifício. As palavras de ordem “Heroyam Slava” (Glória aos Heróis!).
Kolomyia – Kosmach – Sheshory
Monumento aos heróis do UPA

A cidade de Kolomyia recebeu nós com a chuva e a temperatura de 5°C. O comboio que nos levou até a cidade era já algo velhinho, tal como o autocarro Kolomyia – Kosmach, mas como as estradas no interior não são melhores, autocarros novos, provavelmente, não são viáveis. Ao lado da estrada podíamos ver apenas montanhas lindas, muita neve, várias casas novas. Na entrada da aldeia de Kosmach vimos o lugar onde as forças do UPA, comandadas pelo comandante Myroslav Symchych (“Kryvonis”) liquidaram a divisão inteira do NKVD (12 – 15 camiões, cerca de 405 pessoas). Myroslav Symchych passou 32 anos, 6 meses e 3 dias atrás das grades soviéticos, em parte pela sua firme recusa de renegar a sua luta pela libertação nacional da Ucrânia. Apesar de todas as privações e perseguições, Sr. Myroslav continua vivo até os dias de hoje.

O chefe do Conselho Municipal de Kosmach (aldeia tem mais de 6.000 moradores), Sr. Dmytro Pokhodzhuk, recebeu-nos no seu gabinete, oferecendo todo o apoio para podermos ver a Malanka, festa tradicional ucraniana, celebrada no dia do Santo Basílio – 13 de Janeiro. Tradicionalmente, só os rapazes podem participar na Malanka, eles andam nas ruas da aldeia, visitando casa a casa, vestindo-se de personagens do folclore ucraniano: urso (leva as coisas pesadas, por exemplo os troncos ou o trenó), diabos – criaturas desordeiras, por exemplo pregam as portas das WC, ciganos – vendem “ouro cigano”, etc. Além de ser um chefe muito hospitaleiro, Sr. Dmytro é primeiro dos chefes municipais ucranianos com a presença assídua no Facebook. O gabinete do Sr. Dmytro sempre esta cheio das pessoas, ora nós lá deixamos as nossas malas e mochilas e fomos ver a Malanka, ora veio um grupo de jovens da cidade de Ivano – Frankivsk, que organizam os cursos de estudos das línguas (inglês, francês, alemão, etc).
Urso
Na aldeia de Sheshory fomos surpreendidos pelo um grupo de polícias mascarados, com um carro patrulha que tinha as luzes de emergência ligados, afinal “polícias” também faziam parte da Malanka, creio que os polícias verdadeiros não ficariam nada contentes se vissem os senhores da Malanka assim fardados.
Turismo extremo

Qualquer viagem no comboio ucraniano (menos os comboios especiais), pode ser considerada como o turismo extremo, em todos os sentidos. As casas de banho (WC) são bastante terríveis (em termos de tamanho minúsculo, falta de limpeza e higiene, etc.), cheguei ver uma escova de limpeza amarrada com o fio de pesca para não desaparecer. Na nossa viagem Kolomyia – Lviv passamos pelos dois regimes de temperatura, bastante frio no vagão Comum e muito quente no vagão Dormitório, ao ponto de precisar dormir com as portas abertas para conseguir suportar tanto calor. Quem compra o bilhete com a roupa de cama excluída, não consegue depois comprar a roupa de cama junto ao hospedeiro, nem pode usar o colchão. Como me explicou o hospedeiro: “Que Deus nós livre de uma inspecção!”, o simpático rapaz até bateu na madeira. Toda a confusão foi originada pelo facto do que tivemos apenas um único bilhete no vagão dormitório que queríamos usar para colocar Cândida a descansar. Mas como no fim, vimos que não existe muito controlo, passamos para o tal Dormitório, ficando Canducha a dormir e eu vigiar o seu sono ao lado. Situação ficou muito melhor do que ver ela num vagão e eu no outro. Pois como já tinha explicado antes, existe a falta de bilhetes, originada pelo forte turismo e pelas viagens dos estudantes da Galiza ucraniana de e para casa nas férias escolares e universitárias.

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