sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Ucrânia no ano do dragão

Entrada do Museu do Holodomor

Após uma ausência de 6 anos, voltei a Ucrânia em 2011, na companhia da minha esposa, Maria Cândida, para redescobrir o meu próprio país. Estas notas se escrevem durante a viagem, por isso não pretendem ser o retracto fidedigno da Ucrânia, são mais as impressões fotográficas tiradas aqui e ali das coisas que impressionaram ou simplesmente chamaram a minha atenção de alguma maneira.

Consumo e consumismo

Muitas lojas (grandes superfícies e pequenos quiosques) funcionam 24/24 horas. Existem supermercados de capitais estrangeiros (alemão) e vários ucranianos. Existem os quiosques especializados que vendem alimentos “Made in Belarus”, parece que são mais baratos e têm a fama de serem ecologicamente mais seguros (menores níveis de pesticidas, nada de transgénicos, etc). As conversas das pessoas nas ruas andam à volta das compras, créditos, prestações. Tudo se vende às prestações, é possível comprar um casaco de pele (antigo símbolo do poder económico e social na URSS), pagando em prestações durante um ano.

Nota-se a cultura jurídica geral da população, em qualquer esquina existe escritório de um notário privado, as pessoas fazem escrituras de compra e venda, privatizações, sabendo que fazer as transacções sem o apoio jurídico poderá sair muito mais caro.

Cidade de Kyiv continua ser uma grande obra de construção civil, apesar de ritmo abrandou em comparação com os meados dos anos 2000, aqui e ali estão se construir novos prédios de apartamentos. Um apartamento T0 novo, custa em média entre 27.000 USD (29m²) e 37.000 USD. A terra também continua barata, terrenos de 100m² custam entre 6.000 USD (20 km fora de Kyiv) à 4.500 USD (35 km fora de Kyiv).

Cultura e oferta cultural

A maioria dos canais da TV ucranianos é dominada pela produção não ucraniana: música, filmes, séries. Fazendo o “zapping”, presenciei o caso, quando em cerca de 11 canais, apenas um (!) oferecia a programação em ucraniano, embora depois da meia – noite a situação linguística melhora e maioria dos canais opta pelos programas em ucraniano.

Nas rádios ucranianas nota-se uma grande eclética cultural, o mesmo rádio pode passar “Buena Serra, Señorita”, após as composições de algum rock soviético.

Museu do Holodomor

É um lugar que fica no Bairro de Pechersk, em Kyiv e fica apenas 2 paragens do metro Arsenalna. Cada turista e cada ucraniano deve visita-lo para não esquecer os crimes do comunismo e para saber o que foi feito contra a nação ucraniana no passado. Pois, como já foi dito por pessoas mais cultas do que eu, se nós esquecer-mos do passado, este passado poderá se repetir no futuro.

Mosteiro de Kyiv – Pechersk

A entrada normal custa 25 UAH (3,15 USD), o direito de tirar as fotografias em todo o lado vale o dobro e o direito de filmar custa 375 UAH (46,9 USD).
Padres pobres andam nisso...
Palavra “pechera” em ucraniano significa “gruta” e os primeiros monges viviam naquela zona nas grutas, daí o nome actual do bairro e do mosteiro. No império russo apenas 4 mosteiros tinham o nome de “Lavra” (dois deles na Ucrânia), nome grego dado aos mosteiros masculinos marcados pela sua importância eclesiástica na estrutura da igreja ortodoxa. Os monges que lá habitavam não podiam possuir nenhuma propriedade, tudo o resto era determinado pelo estatuto do mosteiro: o que e quando comer, beber, ficar de pé, sentar-se, como e quando rezar, etc.

Para melhorar a acústica das igrejas, os mestres ucranianos colocavam dentro das paredes os tachos especiais, além disso, estes tachos permitiam que as paredes fiquem mais leves. O Mosteiro de Kyiv Pechersk possui 140 edificações, destes 122 são considerados como património da arquitectura. Os monges do mosteiro eram obrigados saber ler e escrever, pois o mosteiro servia como centro de tradução dos textos do grego e do latim, mas também como centro das cópias. “Skryptório”, assim chamavam-se as oficinas que copiavam os livros, usando as peles dos vitelos como material dos livros copiados. Um livro com 200 páginas precisava de 15 – 20 vitelos, por isso os livros eram muito caros e valiam o mesmo valor do que uma manada de vacas ou cavalos. Hoje o complexo parcialmente pertence à Igreja Ortodoxa Ucraniana – Patriarcado de Moscovo, que possui cerca de 1000 alunos na sua escola teológica.

A melhor maneira de viajar

A melhor maneira de viajar pela Ucrânia é usar o comboio, o bilhete entre Kyiv e Lviv custa cerca de 15 – 18 USD (!), incluindo a roupa de cama (compartimento de 6 ou 4 pessoas, respectivamente). Único problema é a falta de bilhetes, tudo deve ser comprado com alguma antecedência, pois na falta de passagens, eu já estava moralmente preparado para pagar um pequeno balúrdio de 72,5 USD por pessoa pela viagem no vagão “SV” (carruagem dormitório). O que fazer, se as passagens aéreas entre Kyiv e Lviv custam cerca de 200 USD, pela mão das Linhas Internacionais da Ucrânia (MAU), as mesmas que usamos na nossa viagem entre Abu-Dabi e Kyiv.

Cidade de Lviv

O nosso comboio partiu de Kyiv à meia – noite e meia e chegou à Lviv às 10h00 de manha. Calhou-nos o compartimento onde viajava jovem casal com uma criança pequena, fizemos a questão de não acorda-la, em contrapartida tivemos uma viagem extremamente calma, sossegada e segura. Os nossos bilhetes eram para as camas no andar da cima, tinha medo pela Cândida, mas fiquei mais sossegado, quando vi que hoje em dia as camas possuem um ferro de protecção que protege o seu usuário de uma queda involuntária no meio do sono. Na minha juventude os caminhos-de-ferro não se preocupavam com isso e as quedas não eram coisas absolutamente extraordinárias.

Panorama de Lviv
Após se instalar e comer (fomos extremamente bem recebidos pela família do presidente da Associação dos Ucranianos de Portugal), dedicamos o primeiro dia na cidade aos passeios, visitamos o restaurante Kryjivka, mas não entramos lá, pois ficamos desencorajados pela fila das pessoas que pretendiam visita-lo. Por cima do Kryjivka, fica outro restaurante, que imita a aparência de uma loja maçónica, mas os preços que pratica são absolutamente escandalosos, um café custa 15 – 20 USD, uma garrafa de bebida espirituosa pode chegar quase 200 USD, no entanto, a casa esta cheia, as pessoas nos países em desenvolvimento gostam de gastar aquilo que podem e aquilo que não podem em coisas bastante inúteis.

Logo à noite, fomos ver o novo filme de Guy Ritchie “Sherlock Holmes. O Jogo das Sombras”. Não tenho a certeza se gostei o filme, mas pelo menos creio que irei ter o gosto de assisti-lo mais uma vez. Os bilhetes custam 40 UAH (5 USD), apesar disso, a plateia estava quase cheia. O filme estava dobrado em ucraniano.
Encontramos o famoso museu de toucinho, afinal, é apenas um restaurante que usa a “capa” do museu para chamar a clientela, mesmo assim é uma ideia interessante que merece ser apoiada e divulgada.

Telefonia móvel

Hoje na Ucrânia funcionam três grandes operadores de telefonia móvel (KyivStar, MTS, ex-UM e Life), que incorporaram uma série de sub – operadores pequenos. Carregando o telemóvel com apenas 5 USD, a maioria permite fazer as chamadas gratuitas (com condições) dentro da sua própria rede durante 365 dias. Sem saber como usar a minha operadora, gastei cerca de 1,5 USD por minuto na conversa com Moçambique. Fazendo a aderência correcta (que me ajudaram a fazer na loja da operadora), e pagando apenas 6,38 UAH (0,80 USD) por mês, é possível falar com Moçambique por 0,26 USD com Mcel e números fixos e por 0,4 USD com Vodacom, tendo no último caso o limite máximo de 60 minutos por mês.                  
Entrada da Municipalidade
Natal ucraniano

O Natal ucraniano chega na noite de 6 para 7 de Janeiro, e nós vamos o passar na família do Dr. Rost(yslav) Chaplynskiy, o médico anestesista ucraniano, que passou 12 anos da sua vida a trabalhar e salvar vidas dos moçambicanos, maioritariamente na província de Moçambique.   

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